sisal - 2020

Enfardar Naturalmente

Transição para uma Agricultura Ecológica

A mecanização da agricultura trouxe benefícios inegáveis para as comunidades rurais. Culturas agrícolas que outrora exigiam muita mão-de-obra e esforço, como a segada (a ceifa no Nordeste Transmontano), foram sendo paulatinamente facilitadas com o aparecimento de tratores, alfaias agrícolas e objetos de materiais inovadores. Além da diminuição do trabalho humano e animal, registou-se um aumento da produtividade agrícola, repercutindo-se este efeito positivo na economia familiar das populações. Porém, esta modernização também trouxe efeitos indesejados. A paisagem agro-silvo-pastoril, composta por um mosaico de campos de cereal, bosque, lameiros e hortas foi sendo substituída por monoculturas semi-intensivas de olival e amendoal, com perdas assinaláveis para as espécies silvestres adaptadas a uma agricultura mais antiga e tradicional. As novas técnicas e os novos materiais introduzidos no quotidiano dos agricultores, como a utilização de adubos, fitofármacos e plásticos, revelaram-se tão úteis quanto nocivos, uma vez que não existem soluções adequadas para a sua eficaz eliminação e estão associadas a alimentos de baixa qualidade para consumo humano. Neste contexto, surge a Transição para uma Agricultura Ecológica. À semelhança de outros movimentos de transição, acreditamos que o futuro tem de ser planeado tendo em conta o fenómeno das alterações climáticas e a crise da biodiversidade. Acreditamos ainda que o conhecimento científico disponível nos apoiará na adoção de novas práticas, mais sustentáveis e compatíveis com a biodiversidade e com os limites do meio ambiente.
O primeiro passo que tomamos em direção a esta transição é o projeto Enfardar Naturalmente, uma campanha de sensibilização ambiental que visa substituir o fio de polipropileno (vulgo baraço) pelo fio de sisal, fibra natural totalmente biodegradável.

  • Sisal arame

Objetivos

O objetivo principal deste projeto é o desenvolvimento de uma campanha de sensibilização ambiental que promova a substituição do fio agrícola de polipropileno pelo fio de sisal, fibra totalmente natural, dirigida a agricultores e demais intervenientes no processo de aquisição de material agrícola.

O projeto visa os seguintes objetivos específicos:

1. Sensibilizar os atores do território – vendedores e agricultores que recorrem ao fio agrícola para enfardamento – para a iminência da redução do consumo de plástico, com exemplos concretos do seu impacto a nível local e global, por forma a incentivar e despertar para uma visão da natureza mais consciente;

2. Realizar ações que demonstrem que a alternativa – uma fibra natural e biodegradável – é um material capaz de desempenhar a mesma função com contrapartidas ambientais positivas, a nível regional e nacional;

3. Contribuir para alterar a perceção destes atores face à preservação da natureza, em que, substituindo apenas o fio na sua produção de cereal, têm a oportunidade de ser um exemplo de boas práticas na agricultura;

4. Sensibilizar a comunidade escolar para a problemática dos plásticos na agricultura;

5. Contribuir para a prossecução das metas estabelecidas para Portugal no âmbito da redução de plásticos na UE.

Este projeto responde a obrigações estabelecidas por Portugal em diversos instrumentos legais e aos objetivos dispostos no presente aviso e demais programas, em matéria do uso de plásticos. Com efeito, na atualidade, o fio agrícola de polipropileno deve ser considerado um plástico de uso único, visto que o mesmo não pode ser reciclado. Neste sentido, este projeto que visa sensibilizar os intervenientes no processo de compra do fio agrícola para a sua substituição pelo fio de sisal (fibra natural, totalmente biodegradável) vai de encontro:

— Às regulamentações da Diretiva (UE) 2019/904 sobre os plásticos de uso único;

— Eixo Temático da ENEA “Tornar a Economia Circular – Conceção de Produtos e uso eficiente dos recursos” – apoiando a transição da utilização de um material baseado num recurso limitado e poluente, para um produto natural;

— Eixo Temático da ENEA “Valorizar o Território – Ordenamento do Território” – uma vez que se pretende sensibilizar para a adoção de práticas agrícolas mais sustentáveis.