sisal - 2020

Nordeste

Plásticos na Agricultura

A cerealicultura marca a paisagem e a cultura do Nordeste Transmontano, contribuindo simultaneamente para a base económica de muitas famílias e para o acervo de memórias coletivas do trabalho comunitário de tempos antigos.

A cultura dos cereais cumpria um ciclo anual levado a cabo pelos agricultores portugueses - começando na preparação da terra, seguida da sementeira, da segada (ceifa) e, por fim, o enfardamento. Este trabalho de enorme exigência era suportado inteiramente pela força humana e animal, num esforço conjunto. A recente mecanização agrícola trouxe vantagens irrefutáveis na eficiência da produção agrícola, contudo atualmente sabemos que este aumento de produtividade acarretou enormes impactes no meio ambiente.

A problemática

O trabalho manual da sega de outrora e os caules de centeio utilizados para fechar os molhos de cereal, foram substituídos por máquinas que utilizam um fio agrícola, vulgarmente designado por baraço, composto inteiramente por plástico (polipropileno), cuja decomposição na Natureza pode demorar dezenas a centenas de anos. Estima-se que sejam usadas cerca de 80.000 toneladas anuais de fio agrícola no espaço da UE e o mesmo não pode ser reciclado após ter sido utilizado. Este fio, classificado como um termoplástico, dada a sua maleabilidade e resistência, é bastante versátil, o que o tornou um recurso do quotidiano no meio rural, sendo reutilizado pela população para múltiplas tarefas do seu quotidiano. Contudo, a sua reutilização não compete com a quantidade de fio que se acumula nos espaços naturais, fazendo também parte do nosso quotidiano encontrá-lo e removê-lo dos lameiros. Além da contaminação e da componente inestética, estes resíduos são ainda uma armadilha em potência para a fauna local.

É praticamente consensual que as alterações climáticas e todas as consequências que advêm desta crise irão constituir um dos maiores desafios que a humanidade já enfrentou. Pese embora existam esforços significativos numa tentativa de debelar e mitigar a exploração dos recursos naturais e a produção de materiais nocivos para o meio ambiente, muitas atividades humanas permanecem altamente poluidoras e extrativas. A produção de plásticos é um desses setores que, apesar da sua inegável utilidade, tem obrigatoriamente que sofrer uma mudança de paradigma. Efetivamente, estima-se que, globalmente, 91% do plástico não é reciclado e a produção do mesmo não tem desacelerado.

Uma Solução / Alternativa

Atentos a esta problemática e tendo também a AEPGA animais a seu cargo, cuja alimentação implica a utilização do fio agrícola, queremos contribuir para uma alternativa. Assim, surge este projeto com o objectivo de substituir o fio agrícola de polipropileno pelo fio de sisal, para a prossecução das metas que Portugal estabeleceu no âmbito da redução de plásticos na UE. O sisal é uma fibra 100% natural, obtida a partir da planta Agave sisalana, com propriedades muito interessantes a nível da sua resistência, textura e flexibilidade, sendo completamente biodegradável após ter sido utilizada. Por estes motivos, é classificada pela FAO como uma das fibras do futuro.

Assim, a AEPGA pretende desenvolver uma campanha de sensibilização e divulgação junto dos agricultores e demais intervenientes no processo de aquisição de material agrícola, para incentivar a substituição do fio de polipropileno para o fio de sisal. Para levarmos a cabo esta campanha, pretendemos desenvolver acções de demonstração, produzir material de divulgação e realizar webinars abertos ao público, mas especialmente dirigidos a associações de agricultores.